quarta-feira, 23 de março de 2011

Loucura, Ápice da Liberdade

Esse texto tem aproximadamente 12 anos. Está em sua pré adolescência, talvez buscando sua amadurescência. 

Creio que só a alcançará quando tornar-se verdade vivida em minha vida... 
Por hora, enlouqueçamos juntos e sonhemos tal loucura como porta de libertação de nossa mesquinhez cotidiana...





Livre para ser ou não ser
Livra para seguir qualquer vento
Ser louco o bastante pra ser livre
Ser livre pra seguir os sentimentos

Louco por querer viver um grande amor
Ser louco pra gargalhar sob uma forte chuva
Louco o bastante pra ignorar a dor
Ser livre pra andar por onde for

Loucura e Liberdade, Amor e felicidade
Ser louco pra poder ser feliz
Ser livre, louco e feliz

Quero ser louco, o mais que eu puder
Quero ser livre, o mais que eu conseguir
Ter no sangue o vírus da liberdade
E na mente a Santa Insanidade

Ser louco pra sorrir
Ser livre pra voar
Além do céu, tocar as nuvens
Ser livre e louco para amar

Loucura, ápice da liberdade
Liberdade além da própria vida
Ser louco pra poder sobreviver
Juntar à loucura o amor, a liberdade e a alegria
De ser plenamente livre e louco pra poder viver a vida...





Roberto Amorim
29/10/1999

terça-feira, 22 de março de 2011

O CONFLITO

O CONFLITO

Um jogo de cartas
Entre o Santo e o Pecador
De mãos dadas, Anjo e Tentador
Não é um pacto
Ou um acordo entre irmãos
Não passa de um conflito entre a mente e o coração

Um ofende e desafia o outro
A mostrar-se como realmente é
Na plateia, namorando, Ceticismo e Fé
Sem uma gota de sangue ou suor
A violência do conflito rompe o inimaginável
Sob curativos, a dor é ainda mais insuportável

Pérfidos prazeres
No decorrer de toda a senda
Qualquer sombra é ringue da próxima contenda
Não há beijo imaculado
Ou mal de crueldade insana
Entre os corpos do front, uma paz que beira o Nirvana

Um jogo de cartas
Entre o crer e o pensar
Que como fogo e pólvora, morrem no simples tocar
O Bem nem sempre vence
Quando o Mal age com amor
As chagas do Santo são tratadas pelo Pecador...


Roberto Amorim
05/03/2002.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Encontros

“Como feijão e arroz
Que só se encontram depois
De abandonar a embalagem...”
                               (Fernando Anitelli – Pratododia)

Eros e Psiqué (Canova)

                Não é de hoje que os versos acima transcritos me chamam a atenção por sua simplicidade e ao mesmo tempo sua veracidade, sua agudeza. Quisera assim como o poeta Fernando Anitelli, saber expressar de modo tão lúcido e claro, em versos simples e despretensiosos, verdades tão vivas e concretas da alma humana. Um rápido olhar sobre o trecho da canção acima por certo não captará o “eterno presente no tempo” que os versos contêm. A fugacidade e irreverência das palavras bem ocultam a beleza que somente o olhar vagaroso percebe. É preciso, como para apreciar um belo quadro, olhar sem pressa e espelhar-se na arte do artista, buscando a correspondência, descobrindo então o sentido que ela desvela em minha vida, ouvindo quais notas elas fazem reverberar em mim. Toda arte é uma espécie de espelho que, ornado de poesia e valor, se propõe a refletir algum aspecto do coração do observador...

                Há certa magia no fenômeno das relações humanas. Há qualquer coisa de extra temporal nelas, algo que mesmo alicerçado no chão que pisamos, consegue a façanha de desvencilhar-se do que é meramente factível e ganha o terreno do essencial, aquele campo onde somente o coração enxerga de verdade, como dizia Antoine de Saint-Exupéry. Fato é que a alma humana tanto mais livre será quanto mais disposta estiver a não se fiar em rótulos e ditames culturais descompromissados com sua verdade interior. Ora, quando então a alma torna-se livre, mesmo de suas próprias âncoras e cadeias interiores, pode dispor-se ao outro, pode abrir as comportas de si para receber de fato o que vem de fora.

                Esta é a realidade transcendente que habita na arte do encontro: ele só existe realmente quando há solidão em ambas as partes. Não uma solidão ruim como estamos acostumados a chamar de “Mal do Século”, mas uma solidão originária, ontológica, constitutiva do ser humano. Uma solidão inefável, que cada um de nós traz em si. E que vivida de modo saudável, proporciona crescimento humano e vida interior.

                Para voltarmos a refletir sobre os versos que iniciam nossa reflexão, façamos primeiramente um exercício de imaginação que há de nos orientar para desvendarmos os versos da canção, e descobrirmos o profundo sentido de versos tão simples. Façamos o exercício: tome em suas mãos a sua própria alma, e o que nela existe de mais profundo, de mais essencial; cubra-se de qualidades que julgue mais relevantes em si, ou das que sejam mais necessárias na vivência de um relacionamento, seja ele qual for. Cubra-se também de suas certezas, julgamentos, opiniões, razões e conceitos. Agora, ponha em frente de si outra pessoa, outra alma, outro ser embalado nas mesmas realidades típicas de cada um, as mesmas particularidades com as quais você mesmo se ornamentou para o relacionamento. Por fim, ao ter imaginado tal situação, seja honesto e sincero e diga: Houve realmente encontro?
                
                Creio ser esta a profunda questão presente nos versos de Fernando Anitelli, que tanto tem me feito pensar em mim e nos meus “encontros” ultimamente. “(...)Só se encontram depois de abandonar a embalagem”. Não há encontro se não se rompem os lacres interiores. Não há encontro real sem solidão que o preceda. Ponha-se entre uma multidão de desconhecidos e de repente encontre nela um rosto familiar, e entenderá do que falo. Quando abandonam-se as embalagens e dá-se o encontro, as duas solidões não se diluem ou se anulam, mas se acompanham, são partilhadas. E acerca de partilhar, o que dizer? Sobre isto falaremos numa próxima oportunidade. Por hora convido você, caro leitor, a pensar nos seus encontros assim como eu tenho pensado nos meus. Numa cultura contemporânea permeada de superficialidades, frivolidades, aparências e embalagens, abandonar as cavernas que nos ocultam os outros e nos ocultam dos outros é uma aventura que nos traz medo e insegurança. Eu penso nos meus encontros e percebo que, em muitos aspectos, ainda estou muito aquém de vivê-los plenamente fora das embalagens. Descubro que ainda sou meu próprio carcereiro em muitas coisas, e há muitos embrulhos e embalagens a serem abertos. Convido-o a fazer o mesmo: busque-se, desarme-se, conquiste-se... ENCONTRE-SE!

R.C.A
02 de março de 201108:10h
Metrô do Rio de Janeiro.