quinta-feira, 24 de novembro de 2011

As Lágrimas do Poeta




            
            Por que um poeta chora? Por que o canto que de seu peito sai soa triste, ainda que tão belo? Não há nisso contradição ou absurdo, mas tão somente um paradoxo. Realidades que divergem seu norte, mas se, por graça ou sorte, neste parco e pobre rumo que nos lança para a morte, estas duas estrelas – beleza e tristeza – se encontram, então, de enlace tão insólito e incerto, nascem da arte os rebentos mais belos: os versos.

            É unicamente nisto que mora o sentido das lagrimas do poeta: para tornar leve o que ora pesava; para colorir com os mil nuances do sentir este branco e preto mundo que calcula, mede, pesa e prontamente responde ao que se indaga. Esse é o sentir e esse é o chorar do poeta. Mas que origem tem esse frágil derramar? De que cristais e geleiras derretem estes pingos que molham a fronte do artista e marcam o papel, disfarçando em doces rimas a dor e o fel?

            Nem sempre são lágrimas reais as fontes dos versos. Muitas vezes não nascem de uma dor de verdade, mas imaginada, que nem por isso há de doer menos, mas somente dói de modo diferente. Moram no poeta as dores de muitos silêncios, os ocasos de muitos sonhos que, calados para o mundo, guardam-se à espera do parto que os liberte em vida os torne. Tais dores vibram sons e espargem cores e reflexos que atingem o cerne dos que delas não se escondem e, por sina ou por querer, não conseguem não orná-las da pureza que trazem no peito. É aí que o poeta chora a dor que não é sua, a do que viu oculta nas sombras, jogada nas ruas, calada entre as sobras da vida tão bela, tão nua, tão crua. E o seu jeito de chorar não é outro senão em versos, linhas cujo rumo a ser tomado desconhece, e mesmo se o conhecesse, teimaria em ignorar. Mas queira Deus que corram o mundo estes versos e de rara beleza vistam cada dor, cada penar...

            E sobre as dores que no coração do poeta habitam? Não são também dor genuína, que nasce pequena para tomar vulto e corpo na poesia? Bem, a dor do poeta é a dor do medo que tem de ver o mundo sem frases que sirvam de véu para as agruras que o desposam.  Sofre o poeta por não saber não amar os espinhos que lhe ferem os dedos quando colhe a flor sobre a qual deseja rimar. O que nele dói e violentamente o domina é uma imprudência quase suicida que não lhe permite guardar-se para si. Isto o mata e isto o enche de vida!

            As lágrimas do poeta nascem quando a dor cala tão fundo que, subitamente, deixa de doer, e dela ele herda somente o silêncio de não saber o que dizer, como dizer, para quem dizer. Então percebe-se mudo, nu e só, à espera dos versos, que são sangue, suor e lágrimas de seu brutal silêncio. Nos versos ele chora a dor que cotidianamente o apaixona e fielmente violenta, dores que do mundo ele sente e, inocente ou intencionalmente, nelas esconde sua própria dor.

            As lágrimas do poeta nascem do silêncio  em que a poesia o encerra, e escravo de sua cria, nos versos ele chora, canta, grita o que não conhece e nem reconhece se não revestir de beleza e poesia.




                       
Roberto Amorim
25 de novembro de 2011 – 00:30h

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