quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Novo Acordo




             
        Sou estudante de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas. Todos os dias, me deparo com frases, vírgulas, pontos, textos... Tudo junto ou separado, busco com essas pedras construir prédios e casas, que não precisam ser sempre bonitos ou atraentes. Precisam, isto sim, fazer sentido. Precisam fazer sentido e fazer sentir, e se tal objetivo for alcançado, pouco importa ao leitor quem foi seu autor ou o sentido original que fora desejado. Palavras não são imóveis, não são rabiscos mortos que de uma folha de papel fazem um frio mármore de uma lápide sepulcral. Palavras são embriões que fecundam as linhas de um caderno, de uma história, de uma vida e geram outras vidas, geram histórias na história que as recebe.

            Bem, o caso é que estudando esta ciência, todas as palavras ganham peso e cor desmedidos para mim. Ou melhor, acredito que elas sempre possuem tais características, o caso é que acabamos ficando mais perspicazes e sensíveis às particularidades do nosso objeto de estudo, a essa dinâmica vocabular. Assim, vez por outra salta aos olhos o quão equívocas são as análises sintáticas que fazem das frases, dos textos, orações. Análises “sentimentáticas “, eu diria. Análises sintáticas nas quais eu sinto estática no que dizem, pensam, respiram, sentem. Orações que não se completam com o enlevo que o termo “oração” pode nos fazer supor. Ao invés de elevarem ao céu (seja este qual for o céu e o credo que se pretenda), mas dirigem-se ad ínferos. Constroem-se textos que destroem contextos, não fazem sentido ou coerência, não há liga entre as linhas e a vida. O sujeito simples torna-se por demais simplório, e ao mesmo tempo confuso, complexo, tão somente por ser justo somente um sujeito simples. Então, busca-se o sujeito que esteja oculto, elíptico, deixe rastros de desinências misteriosas, pois aí há o que investigar. Qual a graça de investigar um sujeito simples e transparente, cuja frase espelha tão somente o seu simples pensar, condizente com seu agir? Lamentavelmente, além disso, os que leem nossa historia por essa ótica, tendem a buscar predicados que lhes agradem para aplica-los a nossas frases, dando-nos predicativos que não nos cabem, não queremos e não precisamos. Triste dos que tem esta leitura ineficiente, limitada e obtusa, dos que buscam desse modo a indeterminação em suas ações e atitudes, amputando de forma trágica o texto e o contexto do que leem.

            Mas o texto segue e percebo que há também erros de acentuação, pontuação, separação silábica. Percebo o quanto as palavras acentuadas erroneamente geram frágeis construções literárias, minam alicerces outrora firmes e robustecidos. Por vezes, a dor é um vocábulo exageradamente repetido e acentuado, outras, silabicamente mal compreendido e separado. Dá-se à dor tantas silabas e significados, estendem-na de modo que se torna dissílaba nos relacionamentos; trissílaba em amizades possessivas e ciumentas; polissílabas na vida em família. Tristemente, ela se espalha por tantas frases de nossa vida, como um complemento totalmente desnecessário, quando damos a outro o direito de completar as frases que de nosso texto farão parte.

            O que falar, então, das rimas? Das construções poéticas e líricas, hoje cadavéricas devido a versos que destoam escandalosamente da verdade? Versos não são trovas infantis e descompromissadas com a verdade, mas aproximam frases e sentimentos que parecem antagônicos, mas não o são de fato. Estranho perceber que versos não são interpretados como caminhos ou pontes, mas somente como flores de plástico, cuja beleza falsa não é mais do que vidro colorido que nubla a transparência d que somos. Bem, versos são pontes floridas, mas ainda assim são pontes. Se um poema de qualquer autor que seja pretende falar de amor, não há como ignorar que qualquer das linhas que mencione o tal AMOR não pode apontar para nenhum desfecho que diferente de liberdade do amado. De outro modo, um amor que não rime com isso, rimará somente com egoísmo mal disfarçado. Confesso que não são tais versos que desejo ter em minha antologia poética da vida. Quero entender que isto que por dentro me consome e que por amor entendo é o amor na dimensão e jeito certo, de entrega desmedida e sem regressos. Amar o outro pelo outro, por querer o bem, e que bem melhor ele esteja se para tanto for necessário que esteja distante de mim.

            Acredito que é o tempo para um novo acordo ortográfico da vida, em que frases e caminhos possam ter vírgulas e pontos. Vírgulas que os outros nos permitam e nós mesmos também nos permitamos, para respirar e olhar antecipadamente o rumo das frases, para bem expressarmos o que de fato queremos. Pontos finais, exclamativos, interrogativos, que possamos colocar onde bem entendamos, onde bem quisermos e precisarmos, sem temer que sejamos mal compreendidos por quem quiser ler somente algumas poucas páginas do livro.

            É necessário um novo acordo para que corrijamos o que todo este escrito que expressar desde sua primeira linha:
O SUJEITO NÃO PODE SER OBJETO!

Roberto Amorim
Novembro  2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário